domingo, 9 de janeiro de 2011

Resenha | Arkham Detective Tales Extended Edition

Recentemente acabei de ler aquela que provavelmente será a minha primeira campanha (ou ao menos série de cenários) que pretendo mestrar usando Rastro de Cthulhu.

Arkham Detective Tales é uma coleção de cinco cenários focados em agentes da lei, encarregados de investigar casos com elementos sobrenaturais. A idéia não é exatamente uma novidade. Desde o advento de Arquivo X, no início dos anos 90, muitos RPG partiram dessa premissa gerando bons exemplos como Delta Green e outros medianos como Dark Matter. Talvez por isso a minha espectativa sobre o livro não fosse das maiores.

Mas posso dizer que tive uma boa surpresa lendo esse livro, principalmente os cenários prontos que o compõem.

Antes de tudo permitam que eu faça uma pequena ressalva.

Falar de um suplemento com aventuras prontas às vezes é perigoso. Em alguns momentos corre-se o risco de estragar o divertimento alheio revelando mais do que se deve dos cenários, por isso prometo que vou tentar limitar os detalhes incidindo no risco de fazer essa resenha parecer um tanto incompleta.

Tenho certeza que os leitores vão compreender esse cuidado.
Nesse livro, os personagens dos jogadores não são pessoas comuns tragadas involuntariamente para o universo cinzento e pessimista do Mythos de Cthulhu. Os investigadores sabem que estão pisando em um terreno perigoso e são "especialistas" em lidar com casos de teor incomum.

Como agentes da lei e da ordem, à princípio pode parecer que os investigadores tem uma vantagem: eles possuem distintivos que garantem o acesso a cenas de crime, documentos sigilosos e testemunhas. Via de regra os investigadores "civis" precisam batalhar por cada pequena informação que a polícia obtém apenas sacando uma identificação. Mas não é bem assim que a banda toca...

Ao mesmo tempo que os investigadores possuem uma maior liberdade de ação, eles precisam reportar a uma autoridade superior e limites impostos pela própria lei. O grande questionamento de um cenário dessa natureza é "até onde se está disposto a ir e que regras estão dispostos a quebrar para fazer a justiça"?

Esse é o tipo de dilema que torna essas aventuras desafiadoras.

Eu li as aventuras tendo em mente recriar uma ambientação que bebe da fonte do gênero noir, no melhor estilo dos romances de James Ellroy (autor de Dália Negra e Los Angeles Cidade Proibida - Quem não leu, busque saber a respeito pois são romances de detetives de primeira).

Nesse gênero onde as sombras parecem mais escuras que o normal, mulheres fatais e bandidos ameaçadores disputam a atenção de detetives durões e malandros. É esse o clima que vou tentar passar para essa série de aventuras.

Mas de volta à resenha.

O primeiro capítulo do livro define em pormenores do que trata uma campanha protagonizada por "Detetives dos Mythos". Ela usa o mesmo estilo consagrado em outros livros de Rastro de Cthulhu com tópicos divididos em temas como ambientação, estilo, investigadores, personagens do mestre, variantes de regras e ganchos para cenários.

Eu apenas lamento que o autor tenha dedicado tão poucas páginas para um assunto tão interessante. Ao meu ver poderia até ter sacrificado um cenário pronto para se estender um pouco mais em detalhes que sem dúvida seriam úteis no desenvolvimento dos cenários.

Sobre os cenários, há cinco deles girando sobe o mesmo tema recorrente com uma boa dose de ação, investigação e confronto. Tenho certeza de que tanto jogadores novatos quanto veteranos se sentirão desafiados por esse material.

Primeiro Cenário: The Kidnapping/O Rapto:

A premissa desse cenário é bem simples, mas algumas reviravoltas mantém o interesse na trama.

Uma criança é sequestrada em sua casa e os investigadores devem conduzir uma investigação que aponte quem são os culpados. Devem também resgatar a criança antes que o pior aconteça.

A proposta do primeiro cenário é desafiar os investigadores com um caso que parece convencional, mas que aos poucos revela detalhes assustadores e um segredo perturbador. Uma boa estória para iniciantes ou para começar uma campanha com personagens ainda "verdes".

As referências a literatura de Lovecraft estão presentes e remetem principalmente a "Dunwich Horror" e "Haunter in the Dark". O melhor do cenário, no entanto, é a decisão final imposta aos jogadores que deverão lidar com implicações morais e éticas.

Segundo Cenário: Return to Red Hook/ Regresso a Red Hook:

O título entrega o tema desse segundo cenário que é uma espécie de continuação do conto "O Horror em Red Hook" escrito por Lovecraft.

O detetive Thomas Malone levou a polícia de Nova York até as tortuosas vielas de Red Hook onde muitos homens acabaram morrendo. Dez anos depois, o Horror de Red Hook parece ter retornado, e uma vez mais os policiais devem arriscar as suas vidas para fazer o que é certo.

Reviravoltas, pistas bem alinhavadas e momentos de ação fazem desse o melhor cenário do livro. Eu apenas recomendo que o keeper antes de mestrar a aventura, leia (ou como foi no meu caso, re-leia) o conto original para captar o tom da aventura.

Terceiro Cenário: The Book/O Livro

Um cenáro bastante desafiador que coloca os investigadores contra vários oponentes perigosos.

Dois homens morrem sob circunstâncias semelhantes, com apenas um dia de diferença. Eles parecem ter sido vítimas de um assassino em série que está atterrorizando Nova York. A medida que a investigação prossegue, coisas assustadoras são reveladas e horrores são trazidos à tona.

Eu gostei das criaturas que foram usadas nesse cenário e da abordagem inovadora que foi feita da obra de Frank Bellknap Long um excelente escritor dos Mythos cuja importância ainda não foi totalmente reconhecida.

Quarto Cenário: The Wreck/O Naufrágio

Esse é um excelente cenário, bastante interessante por permitir ao keeper empregar técnicas de narrativa não-linear (se estiver curioso para saber do que se trata procure a postagem a respeito no mês de dezembro). Parte do cenário se desenvolve em flashbacks e será um desafio bastante complexo tanto para o mestre quanto para os jogadores. O grau de desafio aqui é enorme e mesmo os mais calejados jogadores terão dificuldade em completar o cenário.

A trama remete ao clássico "The Call of Cthulhu". Um velho barco a vapor é encontrado navegando à deriva próximo do porto. Sua tripulação foi morta ou desapareceu sem deixar vestígios. Que segredos estão escondidos em seu interior assombrado e o que teria acontecido com sua tripulação?

The King's Men/Os Homens do Rei

Finalmente a última estória; “The King’s Men” é exclusiva da nova edição de Arkham Detective Tales, portanto para quem for comprar, tente encontrar a última versão que possui uma estória extra em relação a primeira edição.

O cenário tem início em Nova York, mas depois a ação se transfere para Arkham. Um detetive de polícia é encontrado morto e a única pista que se tem para encontrar os responsáveis são passagens que ele havia agendado para Arkham. Os investigadores obviamente terãos e de seguir para a Nova Inglaterra e explorar a cidade em busca de respostas. Talvez esse seja o cenário que justifica o título com onome "Arkham", é uma boa aventura ainda que não seja extraordinária.

Um dos elementos mais interessantes desse cenário é o uso de sonhos como parte da investigação. Eu sempre gostei desse recurso. Os personagens começam a experimentar sonhos cada vez mais intrigantes que lhes concedem pistas e em determinado momento, se tudo correr conforme o esperado, os limites entre sonhos e realidade não serão tão claros.

Conclusões Finais:

Arkham Detective Tales é o primeiro suplemento de Rastro de Cthulhu que eu leio e eu não poderia estar mais satisfeito.

Além de ser muito bem escrito, os cenários são apresentados de uma maneira bem clara. Keepers de primeira viagem, terão todas as informações de que precisam para fazer sua primeira incurssão no universo das investigações sobrenaturais e no sistema Gunshoe.

A arte interna em preto e branco é sensacional, alguns dos desenhos estão nesse artigo e não preciso falar muito a respeito deles, basta dar uma olhada na qualidade do material.

É difícil situar essas estórias em um dos dois estilos de jogo, eu diria que algumas tendem a um espírito mais pulp, mas há boa dose de elementos clássicos.

Altamente recomendável, Arkham Detective Tales é sem dúvida promessa de divertimento de qualidade.

3 comentários:

  1. Acho que conseguiu, não entregar tudo, dizer o preciso e dar vontade de ler o livro ^^

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  2. Excelente resenha Luciano. E digo q atiçou MTO a minha curiosidade. Aventura com flashbacks, sonhos e Red Hook...isso sim é interessante!!

    Vai pra lista!

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