segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A chegada dos vermes colossais - Anatomia dos Dhole

"Abaixo de seus pés o chão tremia com o movimento dos gigantescos Dholes, e no momento em que ele olhou, um deles se ergueu do solo a centenas de metros como uma torre que arranha as nuvens".

Muitos falam a respeito do poder das criaturas dos Mythos e dedicam muito tempo a seres como os Shoggoths, as Crias de Cthulhu ou os Pólipos Voadores. Todas essas criaturas são, obviamente terríveis e mortais, mas nada no universo do Mythos de Cthulhu pode se comparar a força titânica e a amplitude colossal dos tenebrosos Dholes.

Os Dholes são vermes gigantescos com uma coloração pálida que pode variar de um branco leitoso, passando por um tom arroxeado até um marrom castanho. Eles podem atingir centenas de metros de comprimento, e de fato, alguns são maiores que transatlânticos. Em uma de suas extremidades existe uma cavidade profunda que serve como boca, ela se abre em quatro abas adornadas com milhares de cerdas flexíveis semelhantes a espinhos. O corpo dos Dhole é anelídeo como o de um verme terrestre, dotado de protuberâncias espinhosas que auxiliam seu deslocamento subterrâneo. A pele é grossa com uma consistência semelhante a borracha rígida e muito resistente. Projéteis são incapazes de penetrar nesse couro e mesmo explosivos de alto impacto falham em romper sua integridade.

Ao se mover, o corpo inteiro se contorce em um espasmo coordenado, impulsionando o avanço a medida que escava milhares de metros cúbicos de terra, solo e rocha em instantes. Dessa forma, Dholes podem cruzar distâncias consideráveis em poucas horas. O corpo do Dhole é coberto por uma resina mucosa semelhante a um óleo mineral que permite a ele deslizar com mais facilidade em terrenos abrasivos. Esse óleo de coloração amarelada é secretado por cavidades semelhantes a poros, distribuídas pelo corpo. Embora essa resina tenha origem biológica, sua natureza não é exatamente animal, sendo um derivado mineral. Ao se mover o Dhole secreta essa substância ficando totalmente coberto por ela, deixando um rastro após a sua passagem. A substância é aderente, semelhante a cera de abelha e exala um cheiro potente de terra. Ela se dissolve depois de algumas horas em contato com agentes aeróbicos e mais rapidamente se exposta a luz solar.

A gosma não é especialmente tóxica, mas sua ingestão causa poderosas alucinações semelhantes às experimentadas pelo consumo de mescalina. Tribos de Tcho-tcho que habitam as Terras dos Sonhos usam essa subtância em seus ritos de passagem.

Os Dholes são capazes de regurgitar uma enorme quantidade macerada dessa substância em sua cavidade bucal. Essa gosma pode ser cuspida até vários metros de distância com grande violência a fim de envolver um alvo por completo. Indivíduos atingidos raramente sobrevivem a menos que estejam protegidos em alguma estrutura suficientemente resistente. Há relatos de veículos tombados e aviões abatidos dessa maneira.

Essas criaturas são virtualmente imortais, não há notícias de Dholes que tenham morrido por idade avançada. Contudo, acredita-se que indivíduos ao chegarem a uma determinada etapa de suas existências (o que pode equivaler a milhões de anos terrestres) se retiram para a Terra dos Sonhos. A forma de reprodução também é desconhecida, mas se dermos créditos aos boatos de que Dholes e Cthonians são parentes distantes, é provável que eles também sejam ovíparos. Contudo não se tem notícia de ovos de Dholes.

Dholes raramente são encontrados na Terra, mas podem ser vistos no equivalente a Terra existente no Mundo dos Sonhos. Lá, vivem no mítico Vale Pnath um vasto deserto coberto de ossos e são temidos como predadores implacáveis. Há informações de que tais criaturas são originárias de um planeta gigantesco nos recônditos do universo. Tal mundos foi escavado de tal forma que se tornou praticamente inabitável. Colônias de Dholes podem destruir um ecosistema em poucos anos de atividade.

Dholes extraem alimentos ao varrer estratos do solo arrastando para seu estômago uma enorme quantidade de microorganismos. É irônico que um animal de tamanho tão absurdo obtenha seu sustento de organismos diminutos, mas aparentemente é isso o que ocorre. O sistema digestivo dos Dholes é extremamente lento e pode levar séculos para decompor todos os organismos por ele absorvidos. Dholes não carecem de água ou de outros líquidos e não são adaptados para sobreviver em grandes volumes de água, por essa razão eles se mantém afastados de oceanos, lagoas e rios. Talvez por isso, Dholes raramente são vistos na Terra a não ser quando invocados através de feitiços ou portais dimensionais. Mesmo assim sua permanência é por pouco tempo.

Muito pouco se sabe a respeito da inteligência dos Dholes, para alguns teóricos dos Mythos eles não possuem capacidade racional guiando-se exclusivamente por instinto primitivo. Há, entretanto, controvérsia uma vez que muitas espécies alienígenas tiveram desastrosos encontros com Dholes. Sendo uma criatura tão colossal, os Dholes podem causar danos estruturais à cidades inteiras simplesmente se movendo abaixo do solo. O deslocamento de centenas de milhares de toneladas brutas causado pela investida de um Dhole pode causar atrito em placas tectônicas e gerar terremotos sem precedente.

Na história da Terra é possível que alguns dos maiores terremotos da história tenham sido reflexo da invocação de Dholes por cultistas. O tremor que devastou Lisboa em 1755 e o Terremoto de Shensi (na China) em 1556, podem ter sido causados pela ação de um ou mais Dholes. A destruição de Port au Prince, capital do Haiti em 2010 também pode ter sido ocasionada pela violenta reação de um Dhole convocado para uma massa de terra cercada de água. Se isso for verdade a invocação de Dholes pode ser considerada como uma das ações mais perigosas envolvendo o mundo das criaturas do Mythos (atrás apenas da convocação de Azathoth).

Somente as primeiras cópias do Livro de Eibon, traziam a fórmula necessária para chamar os Dholes para a Terra. Tal ritual é de grande complexidade e exige o sacrifício de uma quantidade assombrosa de energia mística e a preparação de incensos difíceis de serem obtidos. Afortunadamente a última edição de que se tem notícia contendo esse raríssimo ritual foi escrita no Egito antigo. Na lendária Biblioteca de Celaeno existem textos com esse mesmo ritual.

Certos tomos dedicados ao conhecimento do Mythos descrevem a destruição de planetas inteiros pela ação dos Dholes. O planeta Yaddith, uma das esferas capazes de suportar vida no sistema Deneb, considerado um avançado paraíso, foi completamente arruinado pela ação de uma colônia de Dholes. A ação prolongada das criaturas devastou toda a civilização nativa. As criaturas residentes, uma raça de insetos humanóides que dominava ciência e magia, foi forçada a empreender uma fuga desesperada para evitar sua extinção. Por razões desconhecidas os sobreviventes Yaddith parecem ser caçados através do Universo por Dholes que surgem onde quer que os Yaddith se instalem. A razão para isso continua intrigando estudiosos do Mythos, mas sugere um comportamento vingativo típico de seres dotados de inteligência.

O ataque dos Dholes é singular em brutalidade e destruição massificada. Poucas criaturas no universo são capazes de igualar a força bruta de um Dhole. Analistas acreditam que um Dhole furioso é capaz de literalmente achatar um encouraçado de guerra, derrubar um arranha céus ou afundar um quarteirão inteiro. Na natureza não existe outro ser com tamanha capacidade destrutiva.

Outro enigma a respeito dos Dholes se refere ao seu deslocamento através de esferas planetárias. O fato dos Dholes surgirem misteriosamente em planetas onde sua existência era até então desconhecida sugere que essas criaturas são capazes de migrar de alguma maneira. A capacidade de abrir portais dimensionais não é descartada. Há também a possibilidade de que os Dholes sejam de alguma forma conectados a Shub-Niggurath e que esse Deus Exterior realize seu transporte de um mundo para outro. Seja como for, se alguma dessas hipóteses são verdadeiras, nenhum planeta está livre da ação dessas monstruosidades.

Variações:

A característica mais notória dos Dholes é seu tamanho descomunal, mas há relatos de espécimes consideravelmente menores.

Estes seres seriam por definição parasitas do tamanho de serpentes que se alojam em seres vivos - geralmente na caixa toráxica. Uma vez instalados por ventosas eles começam a se alimentar sugando o sangue do hospedeiro.

Supõe-se que estas criaturas menores sejam uma variante dos Dholes, mas para alguns teóricos os membros da espécie simplesmente são capazes de alterar suas dimensões conforme as suas próprias necessidades. Alguns acreditam que os dejetos destes Dholes despejados no organismo de outros seres vivos, tem um efeito colateral benéfico que inibe o processo natural de envelhecimento. Esse talvez seja o método usado pelos Faraós do Egito para obter vida eterna.

Outra variação sugere a existência de uma subespécie com uma espécie de focinho na parte frontal. Estes Dholes menores teriam uma inteligência apurada que os leva a perseguir os Yaddithians onde quer que estes seres se encontrem. Sabe-se que em pelo menos uma ocasião um destes monstros perseguiu e eliminou uma colônia Yaddith que tentava se estabelecer secretamente na Terra. Outra característica dessa subespécie é a capacidade de viajar e gerar portões dimensionais. Para alguns eles seriam batedores dos Dholes maiores cuja função é explorar planetas adequados para colônias. Mas novamente, essa é apenas uma suposição.

Bholes:

Há conjecturas que apontam para o fato de que os Dholes são crias de criaturas ainda maiores conhecidas como Bholes. Sobre estes, mesmo o mais versado estudioso dos Mythos pouco pode dizer, pois até sua existência é colocada em dúvida. Os Bholes seriam criaturas de idade venerável, verdadeiros Anciãos do Universo que existem em estado de perpétua hibernação no coração de alguns planetas. Habitam regiões insondáveis próximas do núcleo central e passam o tempo todo em hibernação.

O explorador dos sonhos, Randolph Carter em sua jornada em busca de Kadath teria descoberto a existência deles e sugerido que são uma espécie de raça patriarcal para os Dholes.

[Na realidade essa controvérsia surgiu quando August Derleth traduziu erradamente o nome da criatura que apareceu no conto "The Dream Quest of Unknown Kadath". Derleth grafou o nome correto "Bhole" como "Dhole", fazendo com que outros autores posteriormente usassem o nome de forma equivocada em seus próprios contos. Para não gerar ainda mais contradição, autores passaram a considerar que Dholes e Bholes são duas espécies distintas.]

Usando Dholes em Cenários

O absurdo tamanho e raridade, faz com que Dholes sejam criaturas difíceis de serem usadas em cenários de Call/Rastro de Cthulhu. Uma monstruosidade de proporções tão incríveis raramente surgiria em todo seu aterrorizante esplendor e se tal coisa acontecesse provavelmente o efeito seria devastador. Eu me recordo de apenas uma ou duas aventuras em que Dholes realmente surgem, e de pelo menos duas campanhas onde cultos tentam convocá-los e é tarefa dos pobres investigadores frustrar esses planos.

Sectos de cultistas interessados em gerar o máximo de pânico e destruição poderiam muito bem recorrer a essa estratégia. Dholes podem ser comparados a armas de destruição em massa e um bando de fanáticos interessados em causar um grande número de mortes, sem dúvida poderia atingir seu intento chamando um (ou mais) Dholes para acabar com um centro urbano. Os preparativos para esse tipo de invocação entretanto não são simples e carecem de várias etapas. Um grupo de investigadores do Mythos poderia passar por uma campanha inteira tentando deter esses maníacos e evitar seus planos.

Alternativamente, um grupo pode viajar (voluntariamente ou inevitavelmente) para a Terra dos Sonhos e se ver obrigado a cruzar o inóspito Vale de Pnath, como aconteceu com Randolph Carter (em Dream Quest of Unknown Kadath). Nesse caso, é quase certo, o avistamento de um verme colossal.

Seja como for, o encontro com uma dessas criaturas deve ser algo sensacional (e devastador para a sanidade) que coloca em perspectiva a insignificância humana diante da grandiosidade dos seres do Mythos.

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