segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobre Handouts e Props (Parte 1) - Handouts que Ilustram

Se tem algo que eu acho genial nos jogos investigativos são os Handouts e Props.

Mais do que serem meros recursos para ajudar o desenvolvimento do jogo, eles tornam a sessão mais envolvente. O uso de props ajuda a solidificar os conceitos, ilustra os aspectos principais do jogo, concede um senso de familiaridade ou na maioria dos casos, fornece alguma coisa tangível para ser examinada. Manipular pistas, afinal de contas, é muito mais interessante do que ouvir a descrição do mestre sobre o que está sendo examinado.

Aqui estão algumas dicas à respeito da criação de handouts para cenários investigativos. Eu resolvi dividir esse artigo em três partes, pois francamente, à medida que ia escrevendo as idéias iam surgindo.

Lembre-se de três coisas antes de começara fazer seus handouts.

1) Um handout pode ser basicamente qualquer coisa: uma carta antiga, um recorte de jornal, uma fotografia apagada, uma pasta com informações, uma carteira de cigarros, uma caixa de fósforos, um velho diário, uma caixa de charutos, velhas partituras, um mapa com anotações na borda, um telegrama, a página de um tomo amarelado e roído por traças... qualquer coisa que possa se traduzir em uma pista para a resolução do mistério.

2) Um handout não precisa ser incrivelmente elaborado, detalhado ou perfeito nos mínimos detalhes. O objetivo deles é tornar o jogo mais envolvente através de uma pista concreta que pode ser examinada e passada de mão em mão entre os jogadores. Acredite, o mais simples handout, terá um efeito melhor do que uma simples e (muitas vezes) enfadonha descrição da pista obtida. Sendo assim, deixe de lado o perfeccionismo exagerado, faça algo funcional, sem enlouquecer durante a sua criação. O melhor à respeito dos handouts de papel é que eles não são muito difíceis de criar. A maior parte dos handouts que uso nos meus jogos são feitos com o mais básico editor de texto disponível, o Word.

3) Handouts são em última análise instrumentos secundários para a trama. Uma série de handouts, por mais incríveis que sejam não conseguem sustentar uma aventura com um roteiro fraco. Escreva toda a aventura, pense em todos os aspectos da trama e da investigação e só então comece a trabalhar os handouts. Isso elimina o risco de que a aventura se transforme em um lindo (e sem gosto) bolo de casamento.

Há três tipos de Handouts/Props que podem ser usados em Aventuras Investigativas.

Handouts Ilustrativos

Fotografias são os principais handouts dessa natureza. São props que trazem verossimilhança para a mesa de jogo e ajudam o grupo a visualizar aquilo que o mestre normalmente apenas descreveria.

Imagine uma aventura que envolve o sequestro de uma criança. O grupo de personagens é contratado para descobrir o paradeiro dessa criança desaparecida e uma reunião é marcada com os pais e o advogado que contatou os investigadores. No decorrer da reunião, a mãe abre sua bolsa e entrega aos jogadores uma fotografia de sua filhinha, um handout com a foto de uma criança de verdade. Essa é uma maneira eficaz de criar empatia na mesa de jogo.

Muito melhor do que o mestre descrever a pista como "a fotografia é de uma menina de 5 anos, cabelos loiros, olhos azuis, branca, com uma marca de nascença no ombro", entregar a foto diretamente permite ao jogador visualizar melhor e entender o que está em jogo. Aquela criança está em perigo, é ela que precisa ser salva. O personagem deixa de ser um amontoado de números ou a combinação das três letrinhas ("NPC") para se tornar algo concreto, quase vivo.

Evidente, nem todos os personagens em uma aventura precisam ser identificados com fotografias, mas os personagens principais de uma longa e complexa campanha podem ser identificados dessa forma permitindo ao grupo assimilar mais facilmente quem são eles e seu papel na trama.

Cartões postais são ótimos handouts. Eles funcionam como handouts ilustrativos - pois trazem uma imagem em um lado e como handouts informativo, com um texto no verso.

Escolher fotografias para uma aventura não dá muito trabalho. Basta fazer uma pesquisa na internet (Flicker ou Google imagens são os melhores) e achar aquela que mais lhe agrada sobre o tema. Fotos de artistas do período clássico de Hollywood também são ótimas para dar um rosto aos personagens coadjuvantes. Experimente o http://silentladies.com/ que possui uma ótima coleção de fotos em preto e branco de celebridades quase esquecidas do cinema. Outra boa dica são os álbuns de fotos universitários (dos anos 30-40) que podem ser encontrados facilmente na internet.

Para adicionar um toque especial sempre é possível passar a fotografia por um filtro e torná-la preto & branca ou sépia. Há recursos disponíveis para envelhecer as fotografias e deixá-las amareladas ou meio apagadas que funcionam muito bem para criar aquele ar de foto antiga. Cortar as bordas de forma descuidada ou com um recorte de filigrama (tipo selo) também é uma boa idéia.

Lembre-se que o formato das fotografias nos anos 20/30 podiam variar bastante e que não existia um tamanho padrão na revelação. Registrar no verso das fotografias a data e o que está na imagem também era um recurso comum.

O ideal é imprimir as fotos em papel glossy, o tipo do papel usado profissionalmente em fotografias, mas confesso que por uma questão de conveniência ($$$) costumo usar folha de impressão normal, a não ser que seja uma pista especial.

Mas os Handouts ilustrativos não se resumem apenas a fotografias de pessoas.

Eu gosto de produzir handouts com fotos de veículos. Por exemplo, o navio em que o grupo está viajando, o avião em que estão voando, o dirigível no qual embarcaram. Fotografias acompanhadas das informações técnicas dos veículos são ótimas para ajudar o grupo a compreender o que estes veículos onde eles são passageiros ou condutores podem fazer.

Da mesma maneira que os veículos, parte do equipamento do grupo pode ser apresentado na forma de fotos. Esse é um método especialmente interessante para definir quais as armas que os personagens carregam. Na terceira edição do Torneio Tentacular, os jogadores encarnavam gangsters à serviço de um chefão do crime organizado, cada um deles tinha uma foto das armas que carregavam com as estatíticas no verso. Se a foto fosse passada para outro jogador, significava que a arma tinha mudado de mãos. Para facilitar a contagem de tiros em cada arma, cada vez que o personagem disparava punha-mos um counter em cima da foto para acompanhar o gasto de munição disponível.

Também é válido passar aos jogadores fotografias da cidades ou do país que o grupo está vistando.

Tem um tipo de prop que eu uso bastante que chamo de "O que vocês conhecem de (nome do lugar)". Nesse prop eu coloco as informações pertinentes sobre o lugar onde se passa a aventura a fim de situar o grupo e conceder a eles detalhes para a aventura.

Essa informação pode ser acompanhada de fotografias da cidade, suas principais paisagens, os locais procurados por turistas, os bares, hotéis, restaurantes e museus que eles irão frequentar. Uma foto de um local que seja interessante para o cenário permite aos jogadores visulizar onde eles se encontram e com o que estão lidando. É claro, nem todos os lugares visitados carecem de recurso visual, mas digamos que o grupo esteja visitando o Museu do Cairo. Mostrar a eles uma ou duas fotografias dos salões e das peças em exposição ajudará na imersão.

Experimente jogar no espaço de busca do "Google imagens" algo como "Paris 1920", "Vale dos Reis 1930" ou mesmo "Estação Gran Central" com certeza você encontrará muitas fotos interessantes que cabem como uma luva para compor o aspecto visual da sua aventura.

Mapas também podem ser bons handouts ilustrativos. É legal quando o grupo estuda um mapa procurando um caminho mais rápido ou um determinado local que els nem imaginam onde fica.

Outro recurso que eu usei durante a campanha "Tatters of the King" e que funcionou muito bem, foi colocar as fotografias em um pen drive e exibir como data show na tela de um laptop. Dessa forma, enquanto a aventura seguia, ficavam aparecendo várias fotos das montanahs do Tibet. O resultado foi bem legal e serviu como referência visual para a narrativa centrada nesse lugar.

6 comentários:

  1. ...otimo post..acrescento uma dica...nas minhas aventuras coloco as fotos no meu PSP ( as vezes tambem coloco alguma musica/som para reforçar o clima ) e mostro aos jogadores nos momentos apropriados...abraço a todo o pessoal e que 2012 seja Iluminado...

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  2. Muitas ótimas dicas, parabéns pelo post!

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  3. Grande contribuição, Luciano! Vou mestrar uma aventura este mês e estou quebrando a cabeça para decidir o que incluir como handouts.
    Acho que pode se interessar por este post: http://arcano13.com/fanzine/spip.php?article468
    é uma resenha em espanhol do suplemento francês "Kadath: a cidade desconhecida". Uma pequena obra de arte... A obra original no catálogo da Editions Mnémos está aqui: http://www.mnemos.com/JOOMLA2/index.php?option=com_content&view=article&id=288:kadath&catid=38:catalogue&Itemid=59
    E continuo esperando sua participação no podcast do rpgarautos... grande abraço.

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  4. Adorei o post! Rolou uma inspiração pra fazer um post sobre props e handouts pra serem usados em jogos de Mage *-*

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  5. Eu lembro de alguns destes handouts.

    Na imagem seguinte ao cartão postal, as fotografias da casa no canto esquerdo são do cenário do Labirinto, não são?

    Esse me dá nos nervos até hoje. ;-)

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  6. É muito bacana mesmo isso, estou usando em minhas campanhas, da um charme todo especial quando os personagens tem as pistas na mão literalmente, em vez de uma descrição, uma imagem vale mais que mil palavras.
    Parabéns pelo post!!!

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