sábado, 1 de novembro de 2014

Eddie Gein - Os crimes do Açougueiro de Plainfield (parte 2)


Durante as décadas de 1940 e 1950, a polícia de Wisconsin começou a perceber um aumento nos casos de pessoas desaparecidas. Havia quatro casos que desafiavam as autoridades. O primeiro era de uma menina de oito anos chamada Georgia Weckler, que havia sumido enquanto voltava do colégio em primeiro de Maio de 1947. Centenas de moradores da região e policiais empreenderam uma exaustiva busca em uma área de 10 milhas do Condado de Jefferson, Wisconsin. 

Infelizmente, Georgia jamais seria vista novamente. Não haviam suspeitos e a única evidência coletada pela polícia foi uma marca de pneu encontrada próxima ao último local onde a menina foi vista. As marcas pertenciam a um caminhão Ford. O caso permaneceu sem solução e só seria reaberto quando Eddie Gein foi condenado pelos seus horrendos crimes. 

Outra menina desapareceu seis anos depois em La Crosse, Wisconsin. Evelyn Hartley de quinze anos trabalhava como babá de crianças. O pai de Evelyn tentou encontrá-la por telefone na casa onde a menina estava trabalhando, mas não houve resposta aos seus chamados. Preocupado, ele imediatamente dirigiu até a casa onde ela deveria estar. Ninguém atendeu a porta. Quando ele olhou pela janela, tudo o que conseguiu ver foi um par de sapatos (que pertenciam a sua filha) e os óculos largados em cima do sofá ao lado de uma revista. Ele tentou entrar na casa, mas a porta e as janelas estavam trancadas. Exceto por uma - a porta que levava ao porão. Nas escadas ele encontrou marcas de sangue. Petrificado, ele entrou na casa e descobriu sinais de luta. A polícia chegou rapidamente e vasculhou a casa achando vários indícios de luta, incluindo manchas de sangue, a marca de uma mão ensanguentada na parede e um pedaço de madeira com traços de sangue e cabelo, possivelmente usado como arma. 

Uma busca regional foi conduzida, mas Evelyn não foi encontrada. Alguns dias mais tarde, a polícia encontrou algumas peças de roupa ensanguentadas que os pais reconheceram como pertencentes a garota. As peças estavam no acostamento de uma estrada interestadual que deixava La Crosse. Todos suspeitaram que o pior havia acontecido. 

Em novembro de 1952, dois homens pararam para beber uma cerveja em um bar em Plainfield, Wisconsin antes de seguir para a floresta e caçar. Victor Travis e Ray Burgess ficaram várias horas no bar antes de sair. Os dois homens e seu carro jamais foram vistos novamente. Uma busca colossal foi organizada, mas a polícia não encontrou qualquer traço deles. Eles haviam simplesmente desaparecido da face da Terra. 

No inverno de 1954, a dona de uma pensão em Plainfield, uma senhora chamada  Mary Hogan tamém desapareceu sem deixar vestígios. A polícia suspeitou de crime quando descobriu marcas de arrombamento e sangue no chão de sua casa e no pátio de trás da casa. A polícia também encontrou um cartucho de pistola deflagrado no quintal. Um ladrão teria entrado pelos fundos pulando a cerca e depois arrombando a porta dos fundos, mas se realmente se tratava de um ladrão porque ele levaria a Sra. Hogan? A mulher jamais foi vista novamente. 

Em Novembro de 1957, após a descoberta do corpo decapitado de Bernice Worden e da coleção pertencente a Eddie Gein, a polícia iniciou uma busca pelos restos de pessoas desaparecidas. Eles acreditavam que Eddie estaria envolvido em muitos outros crimes e que os restos teriam sido enterrados ou afundados em lagos pantanosos que pontilhavam toda propriedade.

Enquanto as escavações eram conduzidas na fazenda, Eddie era interrogado na cadeia do distrito de Wautoma pelos detetives. Gein à princípio não admitiu nenhum dos assassinatos. Entretanto, depois de quase um dia de silêncio começou a contar a nauseante história de como ele havia cometido horríveis mortes e como havia conseguido aqueles macabros troféus. Gein tinha dificuldade em lembrar de todos os detalhes, porque segundo ele próprio, quando cometia esses crimes ficava em uma espécie de transe. Ele lembrava de ter usado seu caminhão Ford para capturar e levar os corpos das suas vítimas para seu covil decrépito. Contou ainda que costumava matar sem qualquer planejamento, simplesmente se sentia compelido a fazê-lo, como "se fosse algo natural". Para cometer seus crimes ele empregava uma variedade assustadora de objetos, desde paus, pedras e martelos, até uma pistola, uma faca de trinchar e uma baioneta militar. Os policiais descobriram em sua casa uma pistola calibre 22, que as autópsias revelaram ser sua arma preferida para matar.

Quando perguntado a respeito das partes de corpos encontradas em sua casa, Gein disse que elas haviam sido exumadas em cemitérios de beira de estrada. Ele insistia que não havia matado todas aquelas pessoas.

Porém, depois de alguns dias de intenso interrogatório ele acabou admitindo que havia cometido "algumas mortes", mas que "não sabia ao certo quantas", uma vez que durante esses crimes ele era tomado por um estado de transe ou excitação que durava muitos dias. Gein tentava se defender dizendo que haveria um comparsa que o ajudava e que este cometia os crimes, mas suas contradições fizeram com que a polícia desconsiderasse suas justificativas.  

O assassino não demonstrava sinais de remorso ou emoção ao longo dos interrogatórios na delegacia. Quando ele falava a respeito dos crimes e das exumações nos cemitérios locais, os investigadores percebiam que algo parecia se acender dentro dele, como se aquelas lembranças o deixassem feliz. Ele não tinha nenhuma noção de imoralidade ou do tamanho do sofrimento que havia provocado.  


Um psiquiatra foi chamado para entrevistá-lo e julgar sua capacidade de discernimento. As conclusões foram claras, o homem era absolutamente insano e a bateria de testes concluiu que ele tinha graves problemas emocionais. Um quadro de grave esquizofrenia e "psicopatologia sexual" começou a ser traçado pelos profissionais que o entrevistaram.   

A condição degenerada de sua personalidade foi atribuída a sua relação conflituosa com a mãe durante sua criação. Gein aparentemente sofria de conflitos internos a respeito do sexo feminino, sua atração natural pelas mulheres era combatida por sua própria personalidade que censurava qualquer tentativa de se aproximar delas. Sua relação de amor/ódio para com mulheres foi se agravando, levando a uma psicose assassina. Nos últimos anos, sua frágil personalidade começou a se fragmentar, levando-o a um comportamento bizarro no qual assumia o papel de sua mãe, vestindo suas roupas e imitando seus trejeitos. Ele também reconheceu que vestia a roupa de suas vítimas e fantasiava que elas estavam vivendo em sua casa. Ele também costurou um traje de pele humana para copiar de forma mais fiel as suas vítimas e assumir suas identidades.  

Enquanto os interrogatórios continuavam, os policiais prosseguiam as escavações na fazenda usando cães farejadores para localizar covas e tratores para remover toneladas de terra. Foram achados mais de dez corpos de mulheres enterrados numa área pantanosa, embora os restos mortais encontrados na casa correspondessem a um número muito maior de vítimas fatais. Eles acreditavam que Gein tivesse feito no mínimo vinte vítimas do sexo feminino, mas não havia como saber ao certo. A única forma da polícia descobrir a verdade era exumar as covas de vários cemitérios que o matador alegava ter removido o conteúdo em suas incursões noturnas.

Após muita controvérsia a respeito da exumação dos cadáveres, a polícia finalmente começou a realizar os procedimentos nos cemitérios visitados pelo assassino. Vários caixões removidos mostravam sinais de terem sido remexidos e partes de corpos realmente estavam ausentes em muitas sepulturas. Gein parecia ter predileção por cadáveres do sexo feminino e embora no início ele se concentrasse em violar túmulos recentes, nos seus últimos anos ele estava desenterrando qualquer túmulo em busca de excitação e troféus.

Apesar de todas as descobertas em sua fazenda, o julgamento de Gein se concentrou apenas nos assassinatos de Bernice Worden e de Mary Hogan, uma vez que a perícia médica se mostrava incapaz de determinar a identidade das muitas vítimas.


Quando as autoridades revelaram os fatos a respeito dos crimes ocorridos naquela triste fazenda, o nome de Eddie Gein se tornou famoso em todo país. Repórteres e fotógrafos convergiam para o lugar em busca de detalhes sanguinolentos sobre a estória. A cidade de Plainsfield ficou imediatamente famosa e as pessoas que conheciam Gein eram entrevistadas como celebridades. As pessoas estavam horrorizadas e nauseadas pelas revelações, mas mesmo assim queriam saber ais a respeito das atrocidades cometidas na fazenda. 

Psiquiatra de todo o mundo tentaram marcar uma entrevista para conhecer Eddie Gein. Durante os anos 1950 ele ganhou notoriedade e se tornou peça chave em vários inquéritos policiais que tratavam de crimes semelhantes. Seus crimes também forneceram subsídios para teorias a respeito de necrofilia, transvestimos e fetichismo ligadas ao crime. Mesmo crianças que ficavam sabendo a respeito dos crimes, cantavam canções a respeito dele e faziam piadas sobre a possibilidade de Eddie Gein vir atrás de seus amigos. Plainsfield se tornou a cidade natal do "pior homem de todos os tempos, depois de Hitler", o "berço do assassino mais cruel que a América conheceu".

Muitos dos moradores originais sabiam bem pouco a respeito de Gein ou de suas atividades. Muitos não tinham nenhuma reclamação a respeito dele e tratavam o sujeito como um vizinho distante com um senso de humor peculiar e nada mais. Eles nunca suspeitaram que ele fosse capaz de cometer aqueles crimes. Mas não era possível se esquivar da verdade - aquele homem baixo e atarracado, que andava para baixo e para cima pelas estradas em seu caminhão Ford era de fato um assassino frio que se excitava arrancando pedaços de suas vítimas para usar como decoração.  

Depois de passar cerca de 30 dias em uma instituição mental, Gein foi avaliado com mentalmente incompetente, e portanto não poderia ser processado como criminoso comum. Os habitantes de Plainfield imediatamente manifestaram seu descontentamento com a decisão, mas havia pouco que a comunidade pudesse fazer para influenciar a decisão da justiça. Eddie foi enviado para cumprir pena no Central State Hospital em Waupun, Wisconsin.

Pouco depois dele ser enviado para o hospital a fazenda de Gein foi mandada para leilão, assim como vários de seus objetos pessoais. Centenas de caçadores de curiosidades participaram desse macabro leilão. Entre as coisas arrematadas estavam roupas, instrumentos musicais, móveis e o caminhão que pertenceu ao assassino. A companhia que cuidou do procedimento de venda, instituiu que os interessados em ver os objetos e visitar a fazenda pagassem 50 centavos pelo "privilégio". Milhares de pessoas apareceram para fazê-lo, o que despertou a fúria dos moradores de Plainsfield. Eles achavam que a fazenda se transformaria em um "museu do bizarro" e exigiram que algo fosse feito para conter o fluxo de curiosos fascinados pelo caso.      


Na manhã de 20 de março de 1958, o departamento de combate ao fogo de Plainsfield foi chamado para responder a uma emergência na fazenda de Eddie Gein. Um incêndio consumia a casa e os galpões que pertenciam a propriedade. Os bombeiros propositalmente demoraram a responder o chamado e quando chegaram lá, o lugar já havia queimado até o chão. A polícia acreditava que alguém havia iniciado o fogo, mas diante da falta de provas julgou-se que um problema elétrico tenha sido a causa da destruição. O juiz local encerrou o inquérito dizendo que "aquele lugar deveria realmente desaparecer e ele não condenaria ninguém por ter uma opinião similar".

Apesar do fogo ter destruído a fazenda, muitos objetos ainda foram recuperados das ruínas enegrecidas. Alguns desses souvenires foram coletados por curiosos que nos anos seguintes venderam tais objetos, estimulando o surgimento de um sinistro mercado consumidor de itens que pertenceram a serial killers. Em 1976, uma caixa de ferramentas com uma etiqueta identificando como pertencente a Eddie Gein foi arrematada em um leilão por 62 mil dólares. Uma baioneta que também supostamente pertenceu a ele atingiu 87 mil em 1982. O fascínio pelo mórbido e pelo incomum atingiu um novo patamar com esse medonho caso. 

E quanto a Eddie Gein, o homem que deu início ao mórbido fascínio pelos mais bestiais criminosos?

Após passar dez anos sendo tratado em uma Instituição Metal ele foi considerado competente para enfrentar julgamento. Os procedimentos foram realizados em 1968, e ele foi considerado culpado do assassinato da Sra Worden e outros crimes. Entretanto, laudos médicos e psiquiátricos atestavam que Gein era mentalmente perturbado e que não poderia ser enviado para uma prisão convencional. Ele acabou sendo escoltado de volta para o Hospital para Criminosos Mentalmente Insanos onde passou o resto de sua vida.  

Na Instituição , seu médico escreveu em um prontuário de 1969:

"Eddie aqui é feliz, mais feliz do que jamais foi em sua tortuosa existência. Ele se dá bem com os outros pacientes, embora mantenha um distanciamento de todos. Passa seu tempo lendo e fazendo artesanato, costurando e trabalhando em outras terapias ocupacionais. Ele também desenvolveu interesse por rádios e recebeu permissão para montar seu próprio rádio amador. De uma forma geral ele é perfeitamente amistoso e sob o controle de medicação não demonstra nenhum desejo de violência nem mesmo quando confrontado ocasionalmente por um membro da equipe do asilo do sexo feminino. Para todos os efeitos é difícil apontar esse homem pacífico como um assassino capaz de tanta crueldade".


Os diretores da instituição o descreveram como "tranquilo" e um "paciente modelo" até seus últimos dias. 

Em 26 de julho de 1984, ele morreu após um longo período de luta contra o câncer. 

Eddie Gein foi enterrado no Cemitério de Plainsfield, ao lado do túmulo de sua mãe, não muito distante das sepulturas que ele violou anos antes. 

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