quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Encontrando o Diabo nas profundezas do Mar - O aterrorizante Anglerfish


Com uma boca larga repleta de dentes pontiagudos e translúcidos como lâminas de vidro, olhos brancos leitosos e uma aparência geral bizarra, o Anglerfish, mais conhecido como Peixe Diabo, talvez seja uma das criaturas mais aterrorizantes que a natureza ousou conceber.

Um animal tão medonho e alienígena, que os antigos habitantes de regiões costeiras da Europa, nas raras ocasiões em que encontravam um deles, consideravam a descoberta um mau agouro. Os habitantes das ilhas do Mediterrâneo sabiam de sua existência, e quando os apanhavam em redes ou os encontravam lançados nas praias, acreditavam que uma tragédia iminente estava para acontecer. Na ocasião em que um espécime foi apresentado em Paris no século XIX, os cientistas da época assumiram que o animal empalhado era uma fraude. Nada tão hediondo poderia existir, afinal de contas.

Apesar de sua existência ter sido comprovada, jamais um deles foi visto com vida. Não é para menos, o anglerfish habita as trincheiras oceânicas mais profundas do nosso planeta. Atingir essa profundidade extrema é muito difícil, quanto mais, realizar uma filmagem e ainda ter a sorte de encontrar especificamente um desses animais.

Mas uma feliz conjunção de fatores, permitiu a inédita filmagem de um Peixe Diabo em seu habitat natural, na costa da Califórnia.

Uma equipe de especialistas em filmagem de alta profundidade, operando um ROR (veículo operado por controle remoto - remotely operated vehicle) conseguiu realizar a proeza. O animal, pequeno é verdade, medindo apenas 9 centímetros, foi filmado a uma profundidade de 580 metros, na Baía de Monterrey. A equipe também conseguiu capturar o animal que foi trazido em segurança para a superfície para ser estudado.


Os especialistas ficaram surpresos com a maneira como o animal se desloca e a forma como ele utiliza suas nadadeiras dorsais. "O peixe diabo parece ter uma forma única de se mover, adaptada para suas necessidades e ao seu ambiente", disse Bob Robinson, chefe da equipe que realizou a filmagem. 

O animal trazido à superfície em perfeitas condições pelo ROV, foi colocado em um aquário especial, semelhante a um freezer que mantém uma temperatura confortável e simula a escuridão em que o peixe diabo vive. Robinson e um grupo de cientistas esperam que o animal se adapte ao novo ambiente para em seguida iniciar os estudos sobre sua fisiologia. Uma das questões principais é compreender como os anglerfish conseguem captar campos eletromagnéticos, de maneira semelhante a alguns tubarões. Os animais são praticamente cegos, uma vez que seu ambiente perpetuamente escuro, torna seus sentidos inúteis. 

Outra questão que eles esperam responder diz respeito ao mecanismo luminoso que essas criaturas possuem na ponta de um apêndice na cabeça. Usando esse apêndice, uma espécie de nadadeira especialmente adaptada, como um tipo de vara de pesca, o peixe diabo atrai suas presas para perto de sua boca e assim as devora.

Os cientistas concordam que ainda se sabe muito pouco a respeito dessa espécie e que estudar um animal em cativeiro será uma oportunidade para conhecer detalhes fundamentais a respeito do animal.


Uma peculiaridade já conhecida a respeito do anglerfish é que os machos da espécie são parasitas. As fêmeas são bem maiores e cabe a elas proteger os machos que não poderiam sobreviver muito tempo no meio hostil das profundezas. Quando jovens, os machos se aproximam de uma parceira e a mordem, fixando-se na lateral delas como uma rêmora. Com o tempo, a pele do macho acaba se fundindo com a da fêmea e ele não pode mais ser removido sem matar o hospedeiro. O nível de dependência é tamanho que os machos fixados perdem os olhos e nadadeiras, e chegam a partilhar da corrente sanguínea da fêmea. Uma vez adaptado, ele se alimenta de restos de comida desperdiçados pela companheira e por vezes aproveita a proximidade para fertiliza-la.  O peixe diabo capturado mês passado, é uma fêmea, mas não possui nenhum macho preso a ela. Outros espécimes encontrados chegavam a ter seis parasitas presos ao seu corpo. 

Com mais de 200 espécies - e provavelmente outras tantas a serem descobertas pelos biólogos marinhos, ainda há muito que não sabemos sobre os peixe-diabo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário