quinta-feira, 12 de março de 2015

Cthulhu nas Highlands - Resenha do Livro Shadows over Scotland


Resenha de Henrik Chaves

Shadows Over Scotland é um suplemento para Call of Cthulhu publicado pela Cubicle 7 em 2011 para a série Cthulhu Britannica.

O livro traz 288 páginas em preto e branco, encadernação com capa dura e ganhou Origins Award 2012 na categoria “Melhor suplemento de RPG”, além do Ennie Award na categoria “Best Setting” no mesmo ano.

E aí? É isso tudo mesmo? Veremos que sim.

A organização do livro:

O volume começa com uma pequena introdução geral sobre a Escócia e os Mythos, incluindo uma timeline, e cita rapidamente algumas personalidades escocesas dos anos 20 (entre elas: Arthur Conan Doyle e Alexander Fleming). Também logo no começo do livro um pequeno disclaimer deixando bem claro que se trata de uma obra de ficção, apesar de toda a pesquisa feita. Pode parecer excesso de zelo, mas mais de uma vez, ao folhear o volume, me peguei precisando pesquisar no Google se determinado evento ocorreu mesmo ou se determinada pessoa realmente existe (como a professora Agnetha Vagnilde, da Universidade de Oslo, que é fictícia, mas está inserida de maneira que não causaria estranhamento se fosse real). 

Vale frisar que o acessório abrange APENAS a década de 20. Mestrar em outras épocas vai requerer um pouco mais de trabalho, embora não seja completamente impossível. 


O restante do livro é dividido em três partes (fora os cenários prontos), seguindo regiões geográficas/geológicas da Escócia. A saber:

1 - Lowlands (a parte sul do país, composta de planícies e colinas)

2 - Highlands (a montanhosa parte norte)

3 - As Ilhas (abrangendo tantos os arquipélagos ao norte quanto as ilhas a oeste).

Por sua vez cada uma dessas partes se subdivide em:

- Geografia

- Cultura e Habitantes

- Flora e fauna

- Clima (sim, com direito a detalhes. Sabiam que nas ilhas Orkney só faz sol 70 dias por ano, em média?).

- Ameaças do Mythos (Mythos Treats)

- Cidades em detalhes (três para cada região descrita)

A seção “Ameaças dos Mythos” é sempre a mais longa, e muitas vezes apresenta ganchos que são praticamente cenários prontos, precisando apenas de uma quantidade bem pequena de trabalho para funcionarem. Outras vezes são apenas ganchos mesmo, precisando de bastante trabalho por parte do guardião. Os tópicos “Cidades em detalhes” também são relativamente completos, sempre com um mapa ao menos do centro da cidade em questão (e lembrando que as cidades na Escócia são pequenas nos dias de hoje, e eram ainda menores em 1920). 


As cidades em detalhes são: 

Lowlands: Edimburgo (atual capital da Escócia, sede do parlamento escocês e centro financeiro), Glasgow (maior cidade do país) e St. Andrews (onde foi fundada a primeira universidade escocesa).

Highlands: Inverness ("capital" das Highlands e maior cidade do norte do país), Aberdeen e Fort Williams

As Ilhas: Kirkwall (Orkney), Portree (Skye) e Stornoway (Harris).

Essa divisão geográfica resulta em uma divisão bem clara também nos estilos de jogo: nas lowlands estão as cidades grandes, aventuras urbanas e cultos que operam escondidos das pessoas e das autoridades (ou com participação destas últimas). Nas highlands temos o interior do país, onde nem sempre é fácil de chegar (muitas vezes só de carro ou carruagem) e nas ilhas o completo isolamento (lembrando que são pouco acessíveis mesmo hoje em dia, quem dirá nos anos 20). Essas diferenças dão uma grande versatilidade na ambientação. Enquanto em Edimburgo cultos a entidades ancestrais precisam ser secretos, nas highlands muitas vezes podem operar de forma “aberta”. E nas ilhas não é impossível que famílias inteiras mantenham cultos profanos há gerações, sem o menor pudor (nas menores ilhas moram apenas meia dúzia de famílias). 

Para quem estiver se perguntando sobre o Lago Ness, há alguns parágrafos sobre ele, mas não se empolguem. O livro inclusive frisa que os supostos avistamentos que tornaram o lago mundialmente famoso ocorreram apenas em 1933, mas isso não impede que o local tenha um papel crucial em um dos cenários prontos do livro.

A Arte:

A arte presente na publicação é bastante competente, principalmente em seus mapas. 

Sobre os cenários prontos:

São seis ao todo, que como já comentado abrangem boa parte do livro. Tive muita vontade de fazer um pequena sinopse de todos, mas mesmo a mais curta pode dar um spoiler indesejado. Basta dizer que eles podem ser utilizados de forma independente, ou amarrados em uma mini-campanha que levará os jogadores de Glasgow até o sítio arqueológico de Skara Brae, nas ilhas Orkney.



Pontos Positivos:

- O estilo de escrita nubla a fronteira entre realidade e ficção. Mais de uma vez me vi obrigado a pesquisar no Google para saber se menções a certos acontecimentos ou documentos eram ficção ou não (na maioria das vezes eram).

- Cenários prontos bastante completos

- Abundância de ganchos para o guardião envolver os jogadores.

Pontos Negativos:

- O livro abrange apenas a época da década de 20. Se você prefere mestrar na época atual ou em 1890 terá bastante trabalho. 

- Aí a observação chata: achei a diagramação do livro um pouco espaçada demais. Dava para ter a mesma informação em bem menos páginas e mesmo assim ser confortável de ler. De qualquer modo, melhor pecar por um texto espaçado demais do que por um compactado em excesso, o que dificultaria a leitura. 

E só um observação pertinente: o release promocional da Cubicle 7 exagerou um pouco sobre os handouts. "Adventures with extensive handouts" dá a impressão que vem pilhas de coisas, mas de fato é padrão que se espera em cenários de Cthulhu. Nada surpreendente...

O Veredito:

De minha parte foi o acessório para Call of Cthulhu mais interessante que adquiri nos últimos tempos. Muito bom para dar aquela variada nos cenários sem perder o clima lovecraftiano. Se quiser dar novos ares para a campanha, ou se nutre uma paixão especial pela escócia, esse é o seu suplemento.

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